Pensar de uma forma em que possamos nos abster de certos
preconceitos formados por outras gerações, até mesmo pela nossa, esse é o maior
desafio do espirito livre, claro que não queremos “inventar a roda” novamente, ainda
mais com um tema amplamente discutido como este: a humildade.
Quando se trata de humildade é lugar comum, pensa-la como
uma virtude a ser seguida, um valor inquestionável, digna de respeito, de
admiração.
Sugiro que olhemos mais de perto para isso a que chamamos humildade, até mesmo pela sua apologia nas redes sociais, que acaba nos sendo imposto, mesmo que indiretamente, um padrão de comportamento, onde todos têm quer ser legais, felizes, bonzinhos, humildes e dizer que ajuda o Meio ambiente.
Se possível não titubeemos, em coloca-la ao microscópio,
para que surja uma nova perspectiva, livre de alguns preconceitos formados ao
seu respeito, apesar de aparentemente ser um tema óbvio, evidenciarei que
muitas pessoas se equivocam performaticamente quando se trata de humildade.
De inicio a humildade é muito traiçoeira, requer um trato
refinado para lidar com ela, até porque pode soar como contraditória, aos olhos
dos mais atentos, como numa expressão: “Sou muito humilde”, aqui há uma
contradição performática, pois, quem dissesse desse modo estaria se gabando de
possuir uma “virtude humilde”, logo se evidenciaria a não humildade de se
intitular humilde.
Humildade provém do latim (Humus), que significa chão,
terra. Isso nos obriga a interrogar: Serão os humildes filhos da terra? Todavia
nos remete aquele dito de Kant: “Quem se transforma em minhoca, não deve
queixar-se, depois de ser pisado”.
Apesar disso a humildade nos parece tão bem vista entre
nossa cultura que as pessoas são humildes para se engrandecer, olha que
contradição em torno dela, e quanta dissimulação.
“Aqueles que imaginamos mais cheios
de desestima por si mesmos e de humildade são geralmente os mais cheios de
ambição e de inveja” já dizia Spinoza.
Por essas e outras que comecei a ter um olhar diferente
perante a humildade, ainda mais agora com a renúncia do Papa Bento XVI, lhe deram
a áurea de humilde, com isso a humildade voltou a ser pop junto com o Papa.
O filósofo brasileiro Mario Sérgio Cortella, tem uma perspectiva mais
centrada de humildade, ele a concebe (não como o rebaixar-se perante o outro),
isso seria a negação de si, negação de suas qualidades, mas para ele a
humildade seria: (não rebaixar o outro para se enaltecer, se elevar).
Temos que nos afirmar perante o outro, saber em que
aspectos somos bons ou ruins e não nos envergonharmos disso, não diminuir o
outro para sermos elevados, mas a sociedade enxerga o afirmar-se como
arrogância, por isso termos que ser aqueles tipos bonzinhos, previsíveis e
humildes, por conta disso niilistas.
O que dizer das pessoas que cobram humildade das outras,
serão elas ressentidas tão quanto as que supostamente não possuem a humildade?
Usando a lente do filósofo F. Nietzsche, parece-me que sim, a pessoa que cobra
ou exige humildade da outra, ressente-se pela capacidade de autoafirmação que
ela mesma não possui, levando a cobrar humildade, das outras pessoas, para que
a outras pessoas se tornem iguais a ela, incapaz de autoafirmação.
A humildade é ter a consciência de que ninguém é melhor
do que ninguém; considero um erro pensar dessa forma, tendo em vista que essa
frase ao mesmo tempo em que diz tudo não diz nada, todavia sempre somos
melhores ou piores em alguns aspectos em relação às outras pessoas.
Por isso que devemos observar cada caso, por
exemplo, no quesito jogar futebol “A” joga melhor que “B”, mais em basquete “B”
joga melhor que “A” assim avaliamos tecnicamente um caso em que se destaca o
bom desempenho de uma pessoa em determinada área.
A humildade talvez seja a mais, problemática das
“virtudes”, por isso requer muitos olhares acerca dela, para que assim as
perspectivas se tornem mais condizentes com a realidade, temos que tomar certos
cuidados ao aceitar toda e qualquer ação humilde como louvável, mas apesar de
tudo penso que a afirmação de si ainda é mais nobre que a humildade, pois, em
certos casos a humildade se transforma em um niilismo ridículo, contudo resolvi sublinhar nela
um caráter que seja mais humano, demasiado humano.
(Alex Domingos).
(Alex Domingos).
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