segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Agnosticismo e Ateísmo




Diferentemente do que se acredita, agnosticismo e ateísmo não são a mesma coisa, existe um abismo entre os dois. Quase sempre nas discussões ouvimos as pessoas apresentarem muitas opiniões formadas pelo senso comum, ideias rasas, comprovando que ainda existe muita confusão em torno destes dois termos, isso acaba gerando algumas especulações sem fundamento. 

Devido a isto, tentarei explica-los de uma forma simples e compreensível, o texto servirá como uma introdução, para despertar o interesse do leitor por obras que decorram mais amplamente sobre o tema proposto. O agnosticismo remete a uma questão de cunho epistemológico, ou seja, ocorre no campo do conhecimento, o ateísmo acontece no campo da crença, essa é a diferença básica que podemos destacar sobre esses dois aspectos, adiante explicaremos melhor essas afirmações.

Sabemos que agnosticismo provém do grego gnose (conhecimento) juntamente com o prefixo negativo “a”, ou seja, (não conhecimento). O agnóstico aponta para a impossibilidade da razão humana conhecer aquelas “realidades” que sejam metafísicas, entre elas a alma, imortalidade, liberdade e por conseguinte dEUS, pois não é possível verificar empiricamente essas “realidades” e obter um conhecimento seguro sobre elas, de tal maneira que não se pode levar dEUS para o laboratório e “colher” um conhecimento cientifico, para provar sua existência.

Kant alega no inicio da sua obra, “A critica da razão pura”, que todo conhecimento começa pela experiência, se o conhecimento deriva da experiência, como poderemos ter um conhecimento seguro destas realidades imateriais? Segundo sua analise, buscar por questões metafisicas faz parte da natureza do homem, porém essas “realidades” só podem ser pensadas, mas nunca conhecidas por meio de nossa razão.

O agnóstico não nega a possibilidade da existência de deus, simplesmente alega que se existe um dEUS, o homem não poderá conhecê-lo através da razão, se deus existe ele é incognoscível e por isso não vê motivos para acreditar nas premissas à cerca de deus, ou, pode apesar disso, acreditar em algum dEUS por motivos de fé, o que o tornaria fideísta. Ultimamente assisti a um vídeo no youtube de um rapaz chamado (PIRULA) descrevendo o agnosticismo de uma maneira aparentemente correta, mas que no fundo não tem sentido algum. No vídeo ele radicaliza suas posições, impondo o agnosticismo às demais pessoas.

Afirma ele que, se uma determinada pessoa, não sabe se deus existe, ela automaticamente passa a ser agnóstica por causa da etimologia (não-conhecimento), isso é um absurdo sem tamanho, tendo em vista que o agnóstico não tem obrigação nenhuma em saber e provar a a existência de uma entidade metafísica, uma vez que ele afirma a NÃO possibilidade de um saber ou de um conhecimento sobre a existência de deus. 

O agnóstico ao ser interrogado se sabe ou não se deus existe, diria: “Se existe deus ou deuses jamais poderemos saber, ou conhecer”, é ingênuo da parte do autor do vídeo, perguntar para alguém que não vê possibilidade de um conhecimento metafísico, se essa pessoa sabe da existência dessas entidades metafísicas, forjando ainda uma resposta, é como se eu perguntasse os números da mega sena, para uma pessoa que afirma que não é capaz de conhecer os números da mega sena antes do sorteio, como eu falei sem sentido algum.

Algumas pessoas chegam ao extremo de argumentar da seguinte forma: “se as pessoas não podem conhecer deus através da razão, logo todas elas são agnósticas, pois não tem o conhecimento sobre a metafisica”, esse argumento também não procede, comete o mesmo erro do rapaz do vídeo, ser agnóstico é afirmar e ter consciência que não podemos conhecer objetos metafísicos através da razão. “O agnosticismo é claramente uma atitude hermenêutica reativa dentro de um ambiente filosófico que tematizou o conhecimento metafísico”. (ROSA, José, Em torno do Agnosticismo, pg-04, 1995). O agnóstico é uma posição de indiferença.

Se não fosse assim, da mesma forma com que se afirma esta sentença, outra pessoa poderia afirmar que: “Podemos sim ter um conhecimento racional de deus”, logo inverteria a sentença, “Se as pessoas podem conhecer deus através da razão como eu, então todas elas são teístas”, que seria outro absurdo, aliás, como todas essas generalizações.

O agnosticismo se tornou uma típica modinha nas rodas de conversas nos dias de hoje, para alguns basta tomar duas cervejas e ler a etimologia da palavra “agnóstico” para revelar sua mais “nova forma intelectual de pensar”, isso se torna um problema, pois será essa a mesma pessoa que irá levar a diante muitos preconceitos gerados por falta de leituras mais aprofundadas sobre o assunto.

O grande erro do agnosticismo é constatar a impossibilidade de conhecimentos metafísicos, se utilizando da própria metafísica para legitimar sua impossibilidade, quem leu Kant sabe do que estou falando, o próprio Hegel descobriu isto após ler a critica da razão pura, sentiu ele um odor metafísico vindo de lá. Hegel teria dito para Kant.... ”Kant isto ai que está fazendo na crítica da razão pura ainda é metafísica”, o agnosticismo é contraditório em sua base, se contentem com isso agnósticos de plantão.

O ateísmo como também o agnosticismo é somente uma classificação, acerca do posicionamento ou estado intelectual do individuo em relação à ideia de deus, logo, o ateísmo não possui natureza análoga às religiões teístas, não adianta espernear. Etimologicamente, a palavra ateu é formada pelo prefixo “a” que denota ausência e pelo radical grego théos, que significa deus, ou seja, a palavra ateu pode significar ausência de deus ou ausência de teísmo.

 “É importante salientar que, comumente, a maioria dos ateus, quando se refere à sua posição, diz apenas que não acredita em deus/deuses. Isso não está incorreto, mas na verdade, com isso quer dizer que não acredita na existência de deus/deuses. Afirmar apenas “não acredito em deus”, pode dar margem à interpretação errônea de que a pessoa em questão acredita em sua existência, mas é contra deus, contra seus mandamentos, ou então que não lhe da crédito, que o difama, fato este que, não raro, dá origem a vários preconceitos em relação à posição ateísta” (CACIAN, André, Os fundamentos do Ateísmo, pg.01).

Até aqui parece ser simples as questões sobre o ateísmo, até creio que seja, porém as pessoas gostam de criar um punhado de definições, muitas delas sem necessidade nenhuma, entre elas estão: ateísmo-positivo, ateísmo-negativo, agnóstico-ateísta, neo-ateísta, ateísmo-implícito, ateísmo-explícito, até mesmo ateísta-forte e ateísta-fraco e por ai vai.

A cada dia se cria uma nova definição para tentar explicar esse fenômeno chamado ateísmo, não vamos tentar defina-las desse modo, pois, penso que não adianta ficar criando demasiadas modalidades de ateus para tentar explicar tudo, mas que, acabam não explicando nada, isso somente deixa as pessoas ainda mais confusas à cerca do assunto. No meu modo de ver, a definição de ateu pode ser mais pragmática, já que na maior parte das vezes encontramos somente dois tipos de ateus: os ingênuos e os inteligentes.

Os ateus ingênuos são aqueles seres que afirmam categoricamente a NÃO existência de deus, que aparece na frase (deus não existe), estes ateus para mim, não são diferentes daqueles religiosos que acreditam em deus, eles também são tão dogmáticos quanto, pois, da mesma forma com que o religioso não consegue provar a existência de deus, este ateu, também não conseguirá provar a sua inexistência, eles enchem a boca para negar a existência de deus e dizer que deus não existe, pensando que isto os tornam mais “inteligentes”, não se diferenciando muito daqueles que creem na existência deus, estes ateus geralmente são fervorosos e pregam como os religiosos.

O ateu inteligente jamais afirmaria que deus não existe, ele simplesmente não aceita as preposições teístas como verdadeiras, para ele deus trata-se apenas de uma hipótese metafísica sem comprovações, ele contesta as afirmações teístas que tentam explicar a realidade, o ateu inteligente não é dogmático e não se fixa na inexistência de deus, nesse caso o ateísmo é somente uma ausência de crença nesse tipo de entidade sobrenatural, ele escuta as premissas teístas, avalia e não vê motivos para acreditar nelas.

A inteligência não permite o ateu de negar categoricamente a existência de deus, assim ele não tem obrigação nenhuma de provar sua inexistência, “na realidade, o dever de provar a veracidade recai sobre os ombros daqueles que afirmam algo, se um individuo diz “deus existe”, fica sobre ele a responsabilidade de provar a veracidade de sua preposição, ou seja, provar a existência de deus. Se falhar em prová-la, então não teremos motivos para aceitá-la e, assim, a descrença torna-se plenamente justificada”. (CACIAN, André, Os fundamentos do Ateísmo, pg.07). Como diria Raul Seixas: Já passei por todas as religiões filosofias, políticas e lutas. Aos onze anos de idade eu já desconfiava da verdade absoluta. 

(Alex Domingos)


Referências

CACIAN, André, Os fundamentos do Ateísmo.
ROSA, José, Em torno do Agnosticismo, 1995.
KANT, A crítica da razão pura, 1987.

Vídeo do Pirula

                                           http://www.youtube.com/watch?v=LVkklTe77Ww

4 comentários:

  1. ATACAR A CRENÇA DO PRÓXIMO E A MAIOR PROVA E MANIFESTAÇÃO DO MEDO E DA IGNORÂNCIA!!!!

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  2. Bianca Morais de Oliveira10 de agosto de 2018 às 05:56

    Buscar a verdade e ter curiosidade de saber quem somos e de onde viemos é uma grande prova de inteligência!!!Acredito que o Agnosticismo possa ser uma forma de se pensar (de uma forma inteligente) que se tornará mais popular daqui pra frente, pois é certo que a geração futura não irá se contentar com o "conhecimento" que lhe foram repassados, eles irão ter a vontade de saber a "verdade", ou seja, acredito que o Agnosticismo será mais popular nos anos que hão de vir.

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  3. Os agnóstico admite não ter resposta para tudo , mas para tudo tem suas perguntas. Do quê adianta comprovar se não chegou a questionar ?

    Flávia Alessandra 2°B

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