quarta-feira, 20 de abril de 2022

A fragmentação do saber

 



Na contemporaneidade todos nós corremos o risco de nos afogarmos no mar da (des)informação. No mundo atual os saberes ainda estão fragmentados, separados e por outro lado os problemas estão cada vez mais polidisciplinares, transversais, globais/regionais e planetários. Enquanto isso, somos inundados de informações por todos os lados, e muito pouca gente consegue transformar essas enxurradas de informação em conhecimento.

 

Me lembro da época em que os músicos iniciantes compravam aquelas revistinhas de violão que facilitavam as cifras, trago esse exemplo para ilustrar uma tendência muito comum das pessoas em quererem facilitar aquilo que é muito complexo. E isso contribui enormemente para a fragmentação do saber.

 

A hiperespecialização é resultado de uma sociedade que há muito tempo vem abandonando o seu interesse pelo “todo”, estamos indo na contramão dos gregos e aceitando os pressupostos cartesianos sem questionarmos.

 

Assim a hiperespecialização acaba impedindo a visão global do problema, e aquilo que é essencial passa a ser diluído ou deixado de lado. Quantas vezes nós fomos ao médico e de pronto, somos encaminhados para outro que seria o especialista.


É um médico para cada parte do corpo, com isso ficamos reféns de um imenso grupo de profissionais que estão esquecendo de pensar o corpo humano em seu conjunto, pois estão presos as partes. Existe uma gama muito pequena de profissionais da área da saúde que ainda ousam a tratar o corpo humano como todo, esses  são sem dúvidas os melhores profissionais da área e tem aqui o seu devido respeito.


Edgar Morin em seu livro: “a cabeça bem feita”: afirmar que “o desafio de pensarmos o todo é um desafio da complexidade, de fato, quando os componentes que constituem um todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o efetivo, o mitológico são inseparáveis e existe um tecido independente”.


Em outras palavras: o complexo deve ser tratado como complexo, não podemos mais caluniar a realidade, simplificando-a. O que mais me chama a atenção é que quanto mais a crise aumenta, mais aumenta a incapacidade de se pensar a crise. Se fala muito em reforma da previdência, mas o que de fato precisamos é de uma mudança urgente do nosso sistema de educacional, esse sim precisa ser restaurado para as próximas gerações. Como canta o rapper Criolo “Ainda há tempo”.


O agravamento da crise que assola nosso país se deve muito ao fato da política econômica do Paulo Guedes estar desvinculada das outras dimensões humanas e sociais que são de certa forma inseparáveis. Ele o Paulo Guedes se recusa a enfrentar a complexidade econômica brasileira, de tal modo que o ministério da economia é um dos poucos ministérios ocupados por alguém que tem o preparo técnico para assumir a pasta, mas que ao mesmo tempo é o ministério mais atrasado humanamente falando. 


Hayek dizia acertadamente que “ninguém pode ser um grande economista se for somente um economista”, eu acrescento: não basta ser um economista é necessário ser também um poeta. Hayek também afirma que "um economista que só é economista torna-se prejudicial e pode constituir um verdadeiro perigo”.


O nosso desafio hoje é pensarmos o problema do ensino, considerando de uma vez por todas os efeitos da fragmentação dos saberes e a incapacidade de articulá-los, com outras áreas. Segundo Edgar Morin o conhecimento só é conhecimento enquanto organização, que está relacionado com as informações e inserido no contexto destas. As informações constituem parcelas dispersas de saber. Precisamos conseguir integrar nossos conhecimentos para a condução das nossas vidas, para assim conseguirmos surfar em meio ao mar das informações. Mas para isso precisamos saber primeiro o que é conhecer.

 

(Alex Domingos)





sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Estamos perdidos?

 


Caro leitor, faz muito tempo que não escrevo algo por aqui, já que, conforme o tempo vai passando vamos aprendendo a escutar mais do que falar, pensar mais do que dizer. Convenhamos, um mundo onde as pessoas falam sobre tudo, a toda hora e a todo momento, faz crescer o valor do silêncio. 


As coisas andam tão absurdas que o ato de pensar e não correr para a rede social e comunicar aos demais o que foi pensado é como se fosse algum tipo de sacrilégio. É preciso ter opinião sobre tudo, se não você não é levado a sério. Temos que ser “youtuber-influencer”? Estamos perdidos?

 

Já faz um tempo que venho maturando as minhas ideias com a convicção de que só poderei escrever algo que realmente preste quando estiver lá com os meus sessenta anos, caso eu chegue lá, caro leitor. Torço para não passar disso. A vida demasiada longeva não costuma ser algo animador. Nesse meio tempo eu venho tentando transformar as minhas corriqueiras ideias e experiências, em poesia. Confesso que o meu propósito é procurar, procurar até encontrar a razão da minha procura, em outras palavras, quero inflar tanto a palavra até que ela estoure em poesia.

 

A filosofia contemporânea me parece um tanto quanto cansada, não raro, ela acaba tendo que se escorar em outras vertentes do pensamento para que assim seja validada pela comunidade científica. Acredito que produzir filosofia na contemporaneidade é algo desafiador. Uma hora dessas o pensamento filosófico há de ser repreendido por aqueles que não conseguem filosofar. Desde Sócrates foi assim.

 

Pelas experiências que eu tive, percebi que as pessoas se zangam facilmente quando você mostra o seu poder crítico, quase sempre querem tirar uma lasquinha disso. Também querem mostrar que pensam criticamente, porém, sem ter as bases corretas para tal, por isso cometem erros grosseiros, talvez pela ânsia de filosofar da noite para o dia.


Faz algum tempo que venho alertando sobre os perigos de ser auto didata, digo em qualquer coisa que seja. O Brasil viu de perto o caso do Olavo de Carvalho que deturpava tudo que tocava, e ainda assim conseguiu influenciar tanta gente, acredito que isso só foimpossível pelo fato do Brasil ser um país onde há muitas pessoas sem pensamento crítico e sem o cultivo do saber filosófico.


Como no caso do Monark que por ignorância e um pouco de prepotência juvenil e mal caratismo, defendeu a existência de um partido nazista, coisa tão absurda, que só jovens neoliberais com fetiche em liberdade defenderia. Creio que até hoje ele não tenha entendido tamanha repercussão. Na cabecinha dele ele só se expressou incorretamente. Nesse caso o cancelamento veio a calhar, mas não sejamos tão otimistas, ele só foi extirpado do podcast por causa de dinheiro das empresas patrocinadoras, não foi pelo bom senso ou algo do tipo. O Monark foi engolido pela mão invisível do mercado, algo que ele tanto defendeu em suas falas vomitativas.


Quem dera eu tivesse a clareza de um Cioran (filósofo romeno), eu já teria sido cancelado há muito tempo. Não por burrices como do Monark, mas por ousar a pensar a partir da fatalidade. Nem sempre consigo, mas as vezes tenho uns “insides” muito pertinentes, porém o niilismo e a minha preguiça existencial não me permitem fazer mais do que eu faço. Tenho bons momentos de clareza, no restante do meu tempo eu bebo cerveja e escrevo poesias.


Tenho a impressão de que o ser humano caminha num imenso labirinto sem ter o fio para conduzi-lo. Se estamos perdidos; isso não sei caro leitor, só tenho uma vaga impressão sobre isto. Na verdade eu só escrevi este texto para dizer que estou de volta aqui no blog, e é só isso, se chegou até aqui, aquele abraço, deixe seu like, compartilhe, ative o sininho e tchau!


(Alex Domingos)