terça-feira, 27 de agosto de 2013

Antologia "Palavras desavisadas de tudo" conta com a participação de três poemas do Mentecriva!



         

Dia 17 de Agosto ocorreu o lançamento da antologia "Palavras desavisadas de tudo" em comemoração aos trinta anos da editora Scortecci, o livro editado em dois volumes, recebeu poesias de diversos lugares do Brasil, entre elas tive a grande satisfação de representar Campo Grande com três poemas, alguns inclusive foram já publicados pelo blog Mentecriva! Confira um deles.

Um dos motivos.

Escrevo para curar-me;
Exorcizar-me;
Espantar meus demônios e anjos;
Retirar o peso sobre meus ombros;
Escrever me torna um constante convalescente;
Nos dias tristes, nos dias contentes;
Escrever é comprar um ingresso para o desconhecido;
Uma folha em branco e o raciocínio colorido;
As palavras tem que ter a medida certa;
Nem mais, nem menos, para expressar amor;
Escrever é ter dor;
Se meu poema não chegou até você;
É porque não é pra você ser leitor.






segunda-feira, 15 de abril de 2013

Niilismo negativo em Nietzsche.










Primeiramente é importante ressaltar que esse texto, exige que sejamos abertos a novas ideias e novas perspectivas, para que assim possamos dialogar sobre assuntos que são de extrema importância e por isso merecem ser debatidos, refletidos.

Portanto, quem não gosta de refletir ou sair de sua zona de conforto, sugiro que não leia esse texto, por conseguinte vá assistir tv ou ler o pequeno príncipe, porém quem tiver o espirito de aventureiro, possuindo assim a ânsia de conhecer “novas terras”, seja bem vindo, falaremos um pouco sobre o niilismo.

O termo niilismo apesar de ter sido cunhado pela primeira vez na filosofia, pelo filósofo antigo Górgias, esse tema foi retomado na modernidade pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que se tornou muito conhecido, pelas suas críticas a filosofia, ciência e cultura.

Antes de tudo, o niilismo é passível de muitas definições e possui muitos disfarces, por esse motivo nos limitaremos a explicar algumas de suas mazelas para um melhor entendimento do termo.

Mais o que significa esse termo niilismo? Niilismo vem do latim (Nihil), que designa o nada, o nada de sentido, aniquilamento ou quando a vida passa ter o valor de nada, assim o homem passa a afirmar o “nada”, com isso muitos acabam mergulhando em um terrível vazio existencial, aceita a depressão como estado de vida e findam por não ter mais esperança.

O problema que Nietzsche enxerga no niilismo é quando a partir dele a vida assume um valor de nada e por isso é depreciada, o homem passa a negar a vida, assumindo um terrível peso, muitos se resignam da vida e passam a se tornar apenas, uma mera função social.

Tendo em vista isso, o que incomoda muito o pensador, é a sua percepção de que todos nós (aqui ele exagera um pouco, mas faz parte da sua maneira explosiva de fazer filosofia), todos nós, somos frutos de uma única perspectiva de mundo, segundo Nietzsche, o ocidente é vítima de uma única visão de mundo que nega a vida, que visão é essa? A visão socrática platônica, que foi remodelada pela religião judaico-cristã, para que se tornasse acessível ao povo, inclusive no seu livro intitulado A Genealogia da Moral, Nietzsche chega a dizer que o “cristianismo é um platonismo para o povo”.

Como assim o cristianismo é um platonismo para o povo? Ora Platão foi um dos primeiros pensadores a declarar que esse mundo em que nós vivemos é um mundo das aparências, um mundo ilusório, portanto já que tudo muda logo, a verdade não pode existir nesse mundo de mudanças, por isso é preciso que exista outro mundo, onde nada mude, por isso seja verdadeiro, o cristianismo segundo o autor teria se apropriado das ideias de Platão para que assim pudesse ser entendida pelo povo, que supostamente não teria acesso a filosofia platônica.

Platão propagou seu dualismo, assim nosso mundo se tornou o mundo da aparência e criou outro mundo como sendo o mundo das ideias, onde não existe a mudança, tudo é verdadeiro, belo, eterno e perfeito.

 A religião judaico-cristã de certa forma teria se apropriado dessa filosofia, que ganhou a graça do povo durante os períodos históricos, gerando assim um tipo de niilismo que  Deleuze interpretando Nietzsche, caracterizou como niilismo negativo.

Na obra Genealogia da Moral, Nietzsche sublinha esse tipo de niilismo como um niilismo que deteriora a vida, pelo fato de negar o corpo, negar seus instintos e reprimir as paixões, ou seja, negação da vida em prol de valores superiores, como se houvesse, coisa que Nietzsche não aceita, valores que sejam superiores à própria vida, Nietzsche é digamos um filosofo da vida, em última instância o que nós temos vida é o que avalia as coisas.

O niilista negativo, nega sua vida, tanto seus instintos, paixões suas pulsões em prol de uma recompensa futura, a tão sonhada vida eterna, com isso passa a não viver intensamente o presente com um receio de não ser contemplado com a eternidade, ou o mundo que Platão idealizou.

Para o niilista negativo, viver na terra só tem sentido quando volta seu olhar para o além, ele quer acreditar que essa vida é somente uma passagem para uma vida melhor, perfeita, imutável, ou seja, um mundo ideal.

Com isso a vida é depreciada, o homem se martiriza nessa vida, esperando uma “recompensa” no futuro, que para Nietzsche não existe, e ele alerta que essa visão de mundo deve ser superada.

É bom lembrar que não estamos nos referindo à fé, mais sim a moral judaico-cristã, que para o autor é a moral da fraqueza, ora, o céu está reservado aos pobres de espírito, os aleijados, quem nunca ouviu falar que é dos fracos e oprimidos é o reino do céu, isso vai totalmente contra, a afirmação da vida de que Nietzsche nos chama a atenção, vai contra a tudo que é forte e são, claro, se é mais fácil um camelo passar num buraco da agulha do que um rico entrar no reino dos céus, nós devemos ser fracos, tristes e humildes e isso é negar a vida, pro autor a história da humanidade é a história da negação da vida. (MOSÉ, Viviane. Café filosófico).

De modo que os valores fortes e sadios foram invertidos pela moral judaico-cristã ao longo da história, com isso a corrente de negação da vida triunfou durante o tempo de dois mil anos, portanto a moral que chegou até nós seria uma moral da negação da própria vida, ou seja, uma moral nega essa vida em nome de uma "possível" eternidade futura.

(Alex Domingos)

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Ser humano: Um ser de Angústia.





Qual existência nunca se deparou com esse sentimento “misterioso”, chamado angústia? Alguns até podem dar outro nome, mas o fato, é que todos nós estamos sujeitos a ela, simplesmente porque a angústia faz parte da existência humana, em outros termos a angústia é inerente à condição existencial do homem.

O filósofo Dinamarquês, Sóren Kierkegaard (1813-1855), que é considerado o pai do existencialismo, chegou a escrever uma obra inteira dedicada a esse tema, intitulada o conceito da angústia, na obra Kierkegaard conceitua a angústia como o medo do indefinido, ou medo do desconhecido.

Faz total sentido, pois geralmente, quando estamos angustiados não sabemos com precisão o porquê deste sentimento, findamos em procurar um motivo, ou uma causa pra esse sentimento, sendo que muitas vezes atribuímos erroneamente à angústia a uma situação ou um objeto que nada tem a ver com ela, e sofremos por isso.

Tendo em vista que conhecendo a causa desse medo, ele já não será mais angústia, será medo de algo determinado, por exemplo, medo de aranha, medo da morte, medo do futuro, a angústia segundo Kierkegaard, não tem um objeto definido, por isso angústia, por isso o medo do não conhecido.

Nas palavras de Kierkegaard: angústia seria como a vertigem diante de um abismo, diante do que não é mais poderia ser.

Grande maioria das pessoas entende a angústia como algo negativo, depreciativo, ao contrário kierkegaard, considera a angústia como a possiblidade do ser humano alcançar a autenticidade.

Ora quando sentimos angústia, somos capazes de refletir coisas que não o faríamos em situações normais e refletir com autenticidade, pois quando nos deparamos com a angústia perdemos nosso chão, com isso não existe religião que consiga dar conta, não tem filosofia capaz de oferecer uma resposta convincente e não tem moralidade que possa nos abster de tal situação.

Com isso através da angústia, temos a possibilidade, de nos tornarmos seres autênticos, percebendo, o que de fato tem valor significativo em nossas vidas, e aquilo que não tem tanto valor assim.

Kierkegaard chama a atenção também para que o homem, por mais difícil que seja se torne singular, único, pois, para ele a sociedade não passa ainda de um conjunto de criaturas animais que mais se parece com um rebanho.

Para o pensador a maior parte dos homens são somente “eus”, refreados sobre si mesmo, em lugar de tornarem-se verdadeiros “eus”, se transformam numa terceira pessoa genérica.

Mais porque sentimos angústia? De onde será que ela nasce?

O filósofo francês Jean Paul Sartre, também se debruçou sobre tal tema, nessas reflexões, Sartre caracterizou o homem como um ser de angústia: o existencialista gosta de declarar que o homem é angústia. Significa isso: o homem que se compromete e percebe que não é apenas aquele que escolhe ser, mas que é também um legislador.

Há muita gente que não demonstra angústia e até está convencida de não sofrê-la, mas a angústia se aninha constantemente no coração do homem, e pra Sartre: se existir é escolher, existir é sofrer angústia.

O ser humano está lançado no mundo, ele não optou por existir, mas está condenado a ser livre e fazer escolhas que ninguém pode fazer por ele, não devemos por isso, deduzir que um ser transcendente qualquer o teria condenado, a liberdade não é uma pena. Por condenado deve-se entender apenas que o homem, em todas as situações, não pode não escolher, tendo em vista que se o homem escolher não escolher, já fez uma escolha, essa é a única restrição à liberdade.

A todo o tempo estamos escolhendo, desde a cor de um carro, o curso de uma faculdade, que livro ler, até as escolhas de maior peso como, por exemplo, a de um chefe militar que toma a responsabilidade de um ataque e lança para a morte um certo número de homens, torcemos para que não seja o caso do ditador Norte Coreano Kim Jong-un, enfim, a todo tempo fazemos escolhas, para Sartre é essa a causa da angústia, ao passo que cada escolha que fizermos, outras infinitas possibilidades acabam caindo no abismo, deixando assim de serem vividas, como diz o ditado popular “cada escolha uma renuncia” essa é a vida.

(Alex Domingos)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Uma abordagem nada original, sobre a originalidade em Nietzsche.





O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, nunca escreveu uma obra especificamente sobre a originalidade, mas é possível ousar pensar com base em alguns de seus fragmentos que trata sobre tal.

Originalidade faz parte das mais variadas culturas, com isso está imersa dentro da nossa própria cultura, todavia antes de qualquer coisa, temos que recorrer ao que Nietzsche entende por cultura. “A cultura é, acima de todas as coisas, a unidade de estilo artístico em toda a expressão de vida dum povo”.

Portanto, se para Nietzsche a cultura significa, o estilo artístico em toda expressão de um povo, podemos inferir, que uma cultura de cunho mais elevado é aquela que possui uma expressão artística original, que valorize a própria vida. Por isso, a cultura não se resume ao mero saber: é muito mais que isso, ao passo que saber determinadas culturas, não torna nenhuma pessoa culta, viver a cultura sim, pode tornar-te culto.

Dessa maneira, a cultura se entrelaça intimamente, com aquilo que é original, a originalidade é cultura e a cultura deve buscar algo que lhe seja propriamente original.

Ora, nem precisamos nos remeter a Nietzsche para percebermos, que a originalidade não provém de algo totalmente novo, as circunstâncias nos fazem acreditar que é altamente improvável que hoje em dia, haja a criação de algo completamente novo, a não ser que esse algo venha nada mais nada a menos que do espaço.

Todos nós sabemos que não existe possibilidade de se criar alguma obra de arte ou qualquer outra coisa, sem haver como base algum conhecimento pré-estabelecido, como também não há possibilidade de se criar nada provindo do nada, logo a originalidade necessariamente deve advir de algum conhecimento anterior que impulsione o seu modo de criação original.

Segundo Voltaire: “a originalidade não é mais do que uma imitação criteriosa”, não sei se ele estava sendo original, mas essa imitação criteriosa como radicalizou Voltaire, pode ser os resquícios que ficaram de uma base anterior de conhecimento e que foi moldado até chegar em alguma ideia interessante, que propiciou a criação de algo original. 

Ter como base algo já estabelecido pela cultura de modo algum quer dizer que não seja original, mas a imitação pela imitação isso sim, é uma cópia grosseira, que não contendo a fonte ou criador pode ser considerado plágio. A originalidade tomada simplesmente como a não cópia ainda é muito simplório, por isso iremos buscar outros viesses.

Nas palavras de Nietzsche: “É quando a arte se veste com o tecido mais usado que melhor se reconhece como arte”, ou seja, a arte tem que revirar o passado em busca de aprimorar o presente artístico, olhar para o passado e trazê-lo de uma forma restaurada, é justamente por essa ótica que estamos nos aproximado daquilo que Nietzsche acredita ser a originalidade.

Em um de seus aforismas Nietzsche faz uma reflexão sobre a originalidade: “O cérebro verdadeiramente original não é o que enxerga algo novo antes de todo mundo, mas o que olha para coisas velhas e conhecidas, já vistas e revistas por todos, como se fossem novas. Quem descobre algo é novamente este ser sem originalidade e sem cérebro chamado sorte”.

A originalidade na ótica nietzschiana é aquela capaz de pregar uma peça no expectador, renovando aquilo que parecia ultrapassado e já conhecido, sendo como abrir um antigo baú, e trazer à luz uma interpretação atual, intima e singular, daquilo que já foi visto.

Convenhamos que a originalidade não seja passível de uma única interpretação, ela exige vários olhares em torno dela, mesmo assim podemos findar sem uma definição exata, pois, se a originalidade pudesse ser objetivada e definida, ela deixaria de ser originalidade. Por isso, nos limitemos em refletir a perspectiva nietzschiana sobre ela, para que assim possam surgir novas ideias, novas perspectivas, sobretudo o texto pode ser considerado um pequeno inicio a essa reflexão, tenho toda certeza que não irão se deter somente nessas, alias vamos ser originais e pensar a originalidade com originalidade.

(Alex Domingos)

sábado, 16 de março de 2013

A herança Platônica.






Platão conseguiu seduzir com seu pensamento filosófico a maior parte do ocidente, assim “compramos” seu modelo de filosofar, o que hoje em dia nos rendem muitos intemperes.

O sucesso de sua filosofia é tão grande, que já se introjetou de uma maneira intima, ao nosso modo de pensar e de ver o mundo, sendo muito difícil, de desvincular-se dela.

Até mesmo por aquelas pessoas que jamais chegaram a ler uma obra sequer de Platão, se for interpelada, fornece uma visão de mundo bem próxima da corrente filosófica iniciada por ele, na Grécia clássica no século V- a.C.

A partir dessas afirmações, vai se tornando evidente que a princípio nós, somos condicionados a pensar, tendo como base esse modelo platônico, assim construímos a nossa maneira de perceber a complexidade do mundo, sem questionar essa estrutura de pensamento, que descende lá da Grécia antiga.

Mas como que esse modelo de filosofia é capaz de influenciar tanto, no decorrer de todo esse tempo? Ora, acertou quem percebeu que esse modelo, nos é doutrinado desde muito cedo, pela cultura judaico-cristã, que reformulou a teoria de Platão, para que tivesse uma maior aceitação por parte do povo.

Após um grande movimento intelectual acontecido na Grécia, que foi fortíssimo, nasce a filosofia com isso, pouco depois o mundo se cristianiza.

Nietzsche foi um dos primeiros pensadores a perceber tal semelhança, chegando a escrever: “O Cristianismo é o platonismo para o povo”, assim passamos a crer sem questionar, (pois a igreja transformou parte da filosofia platônica em dogmas), que existe o “belo”, “justo”, “verdade”, “perfeição” “outro mundo” a “imortalidade da alma”, “eternidade”, assim essa visão metafísica platônica cristã, juntamente com a modernidade, acarretou por fundamentar a nossa moral, nessa relação que existe hoje, de negação do corpo, das sensações que levam ao erro e ao pecado, negação do agora, da contradição e do conflito, consequentemente também findou em construir uma imagem idealizada de si mesmo e do outro.

Um dos grandes problemas trazido pela filosofia platônica é esse “trambolho” chamado ideal, capaz de descentralizar as pessoas, tirando-as o seu foco no presente e projetando seu olhar para um futuro, onde tudo será perfeito.

Contudo, o ideal se difere da realidade obviamente, pois, ele não leva em conta as características do real, por isso será sempre ideal. O idealista simplesmente cria uma situação ilusória, que não condiz com os fatores e empecilhos próprios da realidade.

As pessoas acabam idealizando sua família, sua casa, seu carro, ou seja, toda sua vida acaba sendo constantemente idealizada, deixando de lado as peculiaridades da realidade, para se refugiar no mundo das ideias de Platão.

Partindo desse raciocínio, uma pessoa que obtém um ideal de computador nunca estará satisfeito, com o computador que já possui, a mesma coisa acontece com um filho, se você tem um ideal de filho, irá sempre se queixar do filho que possui, até porque no ideal de filho, ele não comete erros, sempre obedece e não oferece trabalho, por isso é ideal, pois, não leva em conta, que na realidade filhos normalmente irão dar trabalho, jamais será um mar de rosas como foi idealizado.


Quando projetamos tais ideais, sempre ouvimos – não foi como eu esperava, ou – esperava que fosse melhor, porque volto a dizer, o ideal não leva em conta o modo de ser do real. 
A filósofa brasileira Viviane Mosé nos fornece um exemplo de ideal: imaginemos uma garota que idealiza um cruzeiro ensolarado com o amor da vida dela, porém ao chegar no dia do cruzeiro ela percebe que o balanço do navio a deixa enjoada e, além disso, chove e se não bastasse o amor da vida dela ainda ronca.

O balanço do mar que causou enjoo, a chuva e o ronco do marido não estavam incluídos no “pacote” do ideal, porque é somente um ideal que não leva em conta as transformações e características da realidade, desse modo boa parte das pessoas acabam se frustrando, por meio desse ato de idealização constante que não consegue atingir de fato a realidade.

Por isso, observamos hoje em dia, muitas pessoas insatisfeitas com a realidade ao seu redor, pois, aprendemos desde cedo, a apreciar tudo que é ideal e não a realidade, ou seja, se aprendêssemos a apreciar mais a realidade do que o ideal não sofreríamos tanto. 
Será que a culpa é de Platão? 

(Alex Domingos).

sexta-feira, 8 de março de 2013

Uma reflexão sobre a verdade.





Usamos muitas vezes a palavra verdade em nossas vidas, antes mesmo de nos fazermos o seguinte questionamento, o que é a verdade? Isso ocorre até o momento em que surge essa dúvida ou essa dúvida nos é posta.

Existe uma gama muito grande de correntes filosóficas que tentam explicar o significado da magnânima palavra batizada solenemente de verdade, algumas correntes dizem que ela é relativa, outras que é subjetiva, até mesmo que não existe ou que é impossível de se conhecer, não cessa por ai, ainda encontramos muitas outras concepções.

Antes de tudo a nossa ideia de verdade foi construída ao longo dos séculos, isso significa que ela possui uma história, história essa que se inicia na Grécia após o período pré-socrático, mais precisamente com Sócrates e Platão.

Na obra da filósofa brasileira Marilena Chauí, intitulada “Convite a Filosofia”, está expresso que em grego a verdade se diz “aletheia”, que significa não-oculto, não-escondido, não-dissimulado, logo a verdade seria a manifestação daquilo que é, ou existe tal como é.

Com esse raciocínio a verdade seria uma qualidade própria das coisas, o verdadeiro está nas próprias coisas, dizer o verdadeiro seria ver a realidade e dizer à verdade que está na própria realidade.

Com o passar do tempo à ideia de verdade foi caminhando para o que os filósofos chamam hoje de ideia tradicional de verdade, ou seja, a verdade como adequatio esse termo indica que só haverá verdade quando houver adequação entre o objeto e o conhecimento que temos dele.

Emite-se um juízo descrevendo que a camiseta é azul, a verdade seria a adequação do meu juízo ao objeto (camiseta), se com isso voltarmos o olhar para o objeto (camiseta) e constatarmos que sua cor realmente é azul, pronto isso estaria adequado ao meu enunciado logo, ele seria verdadeiro, caso contrário seria falso.

Esta é basicamente a ideia tradicional de verdade, embora essa concepção seja contestada desde o inicio da modernidade, apesar disso, a maior parte das pessoas tentam entender a verdade como adequação.

 O filósofo Thomas Hobbes apesar de ser mais conhecido no âmbito político, ele se opôs a essa explicação tradicional de verdade.

Recapitulando a ideia tradicional de verdade consisti na adequação, entre conhecimento e o objeto, por exemplo: o que eu sei sobre o mar está adequado ao que ele é? Ora, para Thomas Hobbes aqui existe um problema.

Quem pode dizer se meu conhecimento do mar é adequado ao ser do mar? Ora, somente outra pessoa pode analisar tal afirmação, porém, o que lhe oferece o poder para decidir se minha ideia sobre o mar é verdadeira ou não?

Como sabe essa pessoa, qual conhecimento está adequado ao ser do mar? Só uma terceira pessoa e depois uma quarta uma quinta, sendo assim se cria um circulo vicioso até o infinito, logo se constata uma inconsistência na noção tradicional de verdade.

Por mais que pensamos saber “exatamente” o que é a verdade, ela parece nos escapar entre os dedos e nos deixar inquietos para sabermos o que de fato ela é.

Algumas pessoas dizem que a verdade é relativa, ou que na realidade tudo é relativo, o que essas pessoas não veem é que esse enunciado é no mínimo contraditório, pois, um juízo que diz: a verdade é relativa, ao mesmo tempo em que se diz isto, o indivíduo está constatando uma suposta verdade absoluta, assim se poderia dizer em outras palavras, existe uma verdade absoluta, a verdade absoluta de que a verdade é relativa, percebem essa contradição?

Também encontramos aquelas pessoas que dizem não existir a verdade, mais também não percebem que ao proferir: não existi a verdade, estão comprovando a existência de uma verdade, ou seja, a não existência da verdade.

Caem em paradoxos terríveis ao tentar apalpar a verdade, isso me faz pensar, que de fato a verdade, foi construída ao longo dos séculos, o que nos impulsiona a acreditar que a verdade é uma criação histórica, que muda de acordo com as condições históricas e sociais, ora a verdade é uma construção histórica, logo uma invenção do homem, outro paradoxo.

Como pode a verdade ser uma criação, assim como a mentira? Então a verdade no fundo é uma falácia que nos contam e que constantemente pode mudar de acordo com o tempo e as necessidades sociais?

Percebem que o novo Papa pode fazer algumas mudanças nas intocáveis “verdades” cristãs, transformando-as assim em novas “verdades”? Isso vai acontecer se o novo Papa mudar a postura da igreja, diante de alguns dogmas que já estão ultrapassados e que seria muito sensato, da parte do novo representante da igreja modifica-los.

Até mesmo, para continuar mantendo o poder da igreja, já que sua postura conservadora em um mundo pós-moderno, consequentemente irá findar em perder boa parte de seus fiéis.
 Com certeza, a igreja não quer pagar pra ver a sua falência e logo irá aderir a novas “verdades” santas. 

(Alex Domingos).

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Outra perspectiva sobre a humildade









Pensar de uma forma em que possamos nos abster de certos preconceitos formados por outras gerações, até mesmo pela nossa, esse é o maior desafio do espirito livre, claro que não queremos “inventar a roda” novamente, ainda mais com um tema amplamente discutido como este: a humildade.

Quando se trata de humildade é lugar comum, pensa-la como uma virtude a ser seguida, um valor inquestionável, digna de respeito, de admiração.

Sugiro que olhemos mais de perto para isso a que chamamos humildade, até mesmo pela sua apologia nas redes sociais, que acaba nos sendo imposto, mesmo que indiretamente, um padrão de comportamento, onde todos têm quer ser legais, felizes, bonzinhos, humildes e dizer que ajuda o Meio ambiente.

Se possível não titubeemos, em coloca-la ao microscópio, para que surja uma nova perspectiva, livre de alguns preconceitos formados ao seu respeito, apesar de aparentemente ser um tema óbvio, evidenciarei que muitas pessoas se equivocam performaticamente quando se trata de humildade.

De inicio a humildade é muito traiçoeira, requer um trato refinado para lidar com ela, até porque pode soar como contraditória, aos olhos dos mais atentos, como numa expressão: “Sou muito humilde”, aqui há uma contradição performática, pois, quem dissesse desse modo estaria se gabando de possuir uma “virtude humilde”, logo se evidenciaria a não humildade de se intitular humilde.

Humildade provém do latim (Humus), que significa chão, terra. Isso nos obriga a interrogar: Serão os humildes filhos da terra? Todavia nos remete aquele dito de Kant: “Quem se transforma em minhoca, não deve queixar-se, depois de ser pisado”.

Apesar disso a humildade nos parece tão bem vista entre nossa cultura que as pessoas são humildes para se engrandecer, olha que contradição em torno dela, e quanta dissimulação.

“Aqueles que imaginamos mais cheios de desestima por si mesmos e de humildade são geralmente os mais cheios de ambição e de inveja” já dizia Spinoza.

Por essas e outras que comecei a ter um olhar diferente perante a humildade, ainda mais agora com a renúncia do Papa Bento XVI, lhe deram a áurea de humilde, com isso a humildade voltou a ser pop junto com o Papa.

O filósofo brasileiro Mario Sérgio Cortella, tem uma perspectiva mais centrada de humildade, ele a concebe (não como o rebaixar-se perante o outro), isso seria a negação de si, negação de suas qualidades, mas para ele a humildade seria: (não rebaixar o outro para se enaltecer, se elevar).

Temos que nos afirmar perante o outro, saber em que aspectos somos bons ou ruins e não nos envergonharmos disso, não diminuir o outro para sermos elevados, mas a sociedade enxerga o afirmar-se como arrogância, por isso termos que ser aqueles tipos bonzinhos, previsíveis e humildes, por conta disso niilistas.

O que dizer das pessoas que cobram humildade das outras, serão elas ressentidas tão quanto as que supostamente não possuem a humildade? Usando a lente do filósofo F. Nietzsche, parece-me que sim, a pessoa que cobra ou exige humildade da outra, ressente-se pela capacidade de autoafirmação que ela mesma não possui, levando a cobrar humildade, das outras pessoas, para que a outras pessoas se tornem iguais a ela, incapaz de autoafirmação.

A humildade é ter a consciência de que ninguém é melhor do que ninguém; considero um erro pensar dessa forma, tendo em vista que essa frase ao mesmo tempo em que diz tudo não diz nada, todavia sempre somos melhores ou piores em alguns aspectos em relação às outras pessoas.

Por isso que devemos observar cada caso, por exemplo, no quesito jogar futebol “A” joga melhor que “B”, mais em basquete “B” joga melhor que “A” assim avaliamos tecnicamente um caso em que se destaca o bom desempenho de uma pessoa em determinada área.

A humildade talvez seja a mais, problemática das “virtudes”, por isso requer muitos olhares acerca dela, para que assim as perspectivas se tornem mais condizentes com a realidade, temos que tomar certos cuidados ao aceitar toda e qualquer ação humilde como louvável, mas apesar de tudo penso que a afirmação de si ainda é mais nobre que a humildade, pois, em certos casos a humildade se transforma em um niilismo ridículo, contudo resolvi sublinhar nela um caráter que seja mais humano, demasiado humano. 

(Alex Domingos).

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Divinização do Amor.

Nietzsche constatou a “Morte de Deus” no Século XIX, devido a modernidade com sua crítica da metafísica e da tradição. Com isso a contemporaneidade teve que buscar algo pra preencher essa lacuna, me parece que findou dentre outras coisas divinizando o amor, não qualquer tipo amor, mais sim aquele incondicional e eterno que é levantando em lugar de um Tótem, enfim corremos o risco de transformar o amor em uma religião. (Alex Domingos).

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

MAGNO ABREU - A casa do HIGH TECH (10.01.13)





O músico High Tech, ou seja, o músico que utiliza altas tecnologias para realizar suas apresentações, ao conhecer um sistema de pedais eletrônicos que quando acionado reproduz o som programado que deseja, analisou a necessidade de existência de cada músico integrante da banda a qual ele era o dono e líder.

Chegou a conclusão de que não mais era necessário o guitarrista na banda; pois de posse dos pedais eletrônicos, no momento de execução dos solos de guitarra os acionariam liberando a reprodução dos solos de guitarra, por ele mesmo antecipadamente gravados e arquivados no banco de dados deste equipamento.

Substituindo o guitarrista, e ainda sem haver necessidade de interromper sua performance no palco, como por exemplo deixar de tocar um instrumento que estivesse tocando no momento, assim diminuiria o número de integrantes, reduzindo custos, e aumentando o seu prestígio perante o público, demonstrando sua polivalência, como multi-instrumentista, e assim determinou. 

Despediu o guitarrista, e a experiência foi um sucesso, para o bolso do High Tech de ter menos um funcionário para pagar, bem como, para a irreverência de seu show e para o seu público que aplaudia admirando sua nova performance. Resultado: comprou mais pedais eletrônicos e despediu toda a banda, sozinho manipulava vários pedais, cada um referente à cada instrumento que havia na banda, e o público aplaudia cada vez mais.

Em suas novas apresentações, ficava sozinho no palco, e formando um círculo em sua volta, ficavam agora os inúmeros pedais, cabos, pedestais, e diversos equipamentos eletrônicos, era até difícil de identifica-lo no meio de tantos equipamentos e cabos que o enlaçavam, de longe até parecia uma aranha em sua teia, ou uma presa na teia. Ficou muito difícil mover-se no palco e começou a atrapalhar a desenvoltura de sua técnica, era obrigado a ficar quase imóvel e interagia somente com os equipamentos, devido à necessidade de concentração em executar tantos equipamentos sozinho.

O High Tech visando sanar esses incômodos analisou então a possibilidade de utilizar o playback. 

O playback é uma base musical montada em forma de áudio, ou seja, ele através do acionamento de apenas um botão executaria toda a apresentação sonora que desejava, desde a gravação de todos os instrumentos musicais, até prévios arranjos e efeitos especiais, tudo ao mesmo tempo sincronizado e perfeito, por apenas um acionamento, “um play”.

Sem contar que não teria mais a tamanha parafernália, de equipamentos eletrônicos e cabos que o cercavam, agora ele acionava o playback atrás das cortinas iniciando o seu show e sem amarras subia ao palco, e fazia sua apresentação com o poder até de correr em seu palco agora vazio, para delírio e mais aplausos de seu público. 

Toda grande banda contém diversas pessoas que produz em conjunto e não é necessário estar no palco com a banda, por exemplo, o produtor de áudio, o técnico de som, os auxiliares de palco enfim, todos foram também despedidos.

Não havia mais a necessidade deles os lucros aumentaram demasiadamente para o High Tech que se tornou o dono da banda mais rica do planeta (banda EU). Estava muito satisfeito com os lucros, acumulou uma fortuna enorme, e constatou que não mais precisava do público, assim ficaria mais a vontade no seu privativo local de eventos, sem preocupações de datas, horários, e cortesias. E assim fez, não para lucrar mais, mas por ingratidão mesmo, proibiu a entrada do público em suas apresentações.

Tranquilo em seu ateliê sonoro e privativo, sentou-se no lugar destinado à plateia, acionou o Playback e assistiu o show que nem mesmo dele agora achará ser necessário. 

Sozinho, rico e sem preocupações, fez uma programação no sistema de acionamento automático do Playback, para tocar por tempo indeterminado a partir de seu inicio, conferiu para ver se o local estava totalmente vazio, fechou todas as portas, saiu do prédio e escreveu um recado na porta, CASA DO HIGH TECH, e foi embora atrás de algum lugar cheio de pessoas. (Magno Abreu).