quinta-feira, 21 de março de 2013

Uma abordagem nada original, sobre a originalidade em Nietzsche.





O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, nunca escreveu uma obra especificamente sobre a originalidade, mas é possível ousar pensar com base em alguns de seus fragmentos que trata sobre tal.

Originalidade faz parte das mais variadas culturas, com isso está imersa dentro da nossa própria cultura, todavia antes de qualquer coisa, temos que recorrer ao que Nietzsche entende por cultura. “A cultura é, acima de todas as coisas, a unidade de estilo artístico em toda a expressão de vida dum povo”.

Portanto, se para Nietzsche a cultura significa, o estilo artístico em toda expressão de um povo, podemos inferir, que uma cultura de cunho mais elevado é aquela que possui uma expressão artística original, que valorize a própria vida. Por isso, a cultura não se resume ao mero saber: é muito mais que isso, ao passo que saber determinadas culturas, não torna nenhuma pessoa culta, viver a cultura sim, pode tornar-te culto.

Dessa maneira, a cultura se entrelaça intimamente, com aquilo que é original, a originalidade é cultura e a cultura deve buscar algo que lhe seja propriamente original.

Ora, nem precisamos nos remeter a Nietzsche para percebermos, que a originalidade não provém de algo totalmente novo, as circunstâncias nos fazem acreditar que é altamente improvável que hoje em dia, haja a criação de algo completamente novo, a não ser que esse algo venha nada mais nada a menos que do espaço.

Todos nós sabemos que não existe possibilidade de se criar alguma obra de arte ou qualquer outra coisa, sem haver como base algum conhecimento pré-estabelecido, como também não há possibilidade de se criar nada provindo do nada, logo a originalidade necessariamente deve advir de algum conhecimento anterior que impulsione o seu modo de criação original.

Segundo Voltaire: “a originalidade não é mais do que uma imitação criteriosa”, não sei se ele estava sendo original, mas essa imitação criteriosa como radicalizou Voltaire, pode ser os resquícios que ficaram de uma base anterior de conhecimento e que foi moldado até chegar em alguma ideia interessante, que propiciou a criação de algo original. 

Ter como base algo já estabelecido pela cultura de modo algum quer dizer que não seja original, mas a imitação pela imitação isso sim, é uma cópia grosseira, que não contendo a fonte ou criador pode ser considerado plágio. A originalidade tomada simplesmente como a não cópia ainda é muito simplório, por isso iremos buscar outros viesses.

Nas palavras de Nietzsche: “É quando a arte se veste com o tecido mais usado que melhor se reconhece como arte”, ou seja, a arte tem que revirar o passado em busca de aprimorar o presente artístico, olhar para o passado e trazê-lo de uma forma restaurada, é justamente por essa ótica que estamos nos aproximado daquilo que Nietzsche acredita ser a originalidade.

Em um de seus aforismas Nietzsche faz uma reflexão sobre a originalidade: “O cérebro verdadeiramente original não é o que enxerga algo novo antes de todo mundo, mas o que olha para coisas velhas e conhecidas, já vistas e revistas por todos, como se fossem novas. Quem descobre algo é novamente este ser sem originalidade e sem cérebro chamado sorte”.

A originalidade na ótica nietzschiana é aquela capaz de pregar uma peça no expectador, renovando aquilo que parecia ultrapassado e já conhecido, sendo como abrir um antigo baú, e trazer à luz uma interpretação atual, intima e singular, daquilo que já foi visto.

Convenhamos que a originalidade não seja passível de uma única interpretação, ela exige vários olhares em torno dela, mesmo assim podemos findar sem uma definição exata, pois, se a originalidade pudesse ser objetivada e definida, ela deixaria de ser originalidade. Por isso, nos limitemos em refletir a perspectiva nietzschiana sobre ela, para que assim possam surgir novas ideias, novas perspectivas, sobretudo o texto pode ser considerado um pequeno inicio a essa reflexão, tenho toda certeza que não irão se deter somente nessas, alias vamos ser originais e pensar a originalidade com originalidade.

(Alex Domingos)

sábado, 16 de março de 2013

A herança Platônica.






Platão conseguiu seduzir com seu pensamento filosófico a maior parte do ocidente, assim “compramos” seu modelo de filosofar, o que hoje em dia nos rendem muitos intemperes.

O sucesso de sua filosofia é tão grande, que já se introjetou de uma maneira intima, ao nosso modo de pensar e de ver o mundo, sendo muito difícil, de desvincular-se dela.

Até mesmo por aquelas pessoas que jamais chegaram a ler uma obra sequer de Platão, se for interpelada, fornece uma visão de mundo bem próxima da corrente filosófica iniciada por ele, na Grécia clássica no século V- a.C.

A partir dessas afirmações, vai se tornando evidente que a princípio nós, somos condicionados a pensar, tendo como base esse modelo platônico, assim construímos a nossa maneira de perceber a complexidade do mundo, sem questionar essa estrutura de pensamento, que descende lá da Grécia antiga.

Mas como que esse modelo de filosofia é capaz de influenciar tanto, no decorrer de todo esse tempo? Ora, acertou quem percebeu que esse modelo, nos é doutrinado desde muito cedo, pela cultura judaico-cristã, que reformulou a teoria de Platão, para que tivesse uma maior aceitação por parte do povo.

Após um grande movimento intelectual acontecido na Grécia, que foi fortíssimo, nasce a filosofia com isso, pouco depois o mundo se cristianiza.

Nietzsche foi um dos primeiros pensadores a perceber tal semelhança, chegando a escrever: “O Cristianismo é o platonismo para o povo”, assim passamos a crer sem questionar, (pois a igreja transformou parte da filosofia platônica em dogmas), que existe o “belo”, “justo”, “verdade”, “perfeição” “outro mundo” a “imortalidade da alma”, “eternidade”, assim essa visão metafísica platônica cristã, juntamente com a modernidade, acarretou por fundamentar a nossa moral, nessa relação que existe hoje, de negação do corpo, das sensações que levam ao erro e ao pecado, negação do agora, da contradição e do conflito, consequentemente também findou em construir uma imagem idealizada de si mesmo e do outro.

Um dos grandes problemas trazido pela filosofia platônica é esse “trambolho” chamado ideal, capaz de descentralizar as pessoas, tirando-as o seu foco no presente e projetando seu olhar para um futuro, onde tudo será perfeito.

Contudo, o ideal se difere da realidade obviamente, pois, ele não leva em conta as características do real, por isso será sempre ideal. O idealista simplesmente cria uma situação ilusória, que não condiz com os fatores e empecilhos próprios da realidade.

As pessoas acabam idealizando sua família, sua casa, seu carro, ou seja, toda sua vida acaba sendo constantemente idealizada, deixando de lado as peculiaridades da realidade, para se refugiar no mundo das ideias de Platão.

Partindo desse raciocínio, uma pessoa que obtém um ideal de computador nunca estará satisfeito, com o computador que já possui, a mesma coisa acontece com um filho, se você tem um ideal de filho, irá sempre se queixar do filho que possui, até porque no ideal de filho, ele não comete erros, sempre obedece e não oferece trabalho, por isso é ideal, pois, não leva em conta, que na realidade filhos normalmente irão dar trabalho, jamais será um mar de rosas como foi idealizado.


Quando projetamos tais ideais, sempre ouvimos – não foi como eu esperava, ou – esperava que fosse melhor, porque volto a dizer, o ideal não leva em conta o modo de ser do real. 
A filósofa brasileira Viviane Mosé nos fornece um exemplo de ideal: imaginemos uma garota que idealiza um cruzeiro ensolarado com o amor da vida dela, porém ao chegar no dia do cruzeiro ela percebe que o balanço do navio a deixa enjoada e, além disso, chove e se não bastasse o amor da vida dela ainda ronca.

O balanço do mar que causou enjoo, a chuva e o ronco do marido não estavam incluídos no “pacote” do ideal, porque é somente um ideal que não leva em conta as transformações e características da realidade, desse modo boa parte das pessoas acabam se frustrando, por meio desse ato de idealização constante que não consegue atingir de fato a realidade.

Por isso, observamos hoje em dia, muitas pessoas insatisfeitas com a realidade ao seu redor, pois, aprendemos desde cedo, a apreciar tudo que é ideal e não a realidade, ou seja, se aprendêssemos a apreciar mais a realidade do que o ideal não sofreríamos tanto. 
Será que a culpa é de Platão? 

(Alex Domingos).

sexta-feira, 8 de março de 2013

Uma reflexão sobre a verdade.





Usamos muitas vezes a palavra verdade em nossas vidas, antes mesmo de nos fazermos o seguinte questionamento, o que é a verdade? Isso ocorre até o momento em que surge essa dúvida ou essa dúvida nos é posta.

Existe uma gama muito grande de correntes filosóficas que tentam explicar o significado da magnânima palavra batizada solenemente de verdade, algumas correntes dizem que ela é relativa, outras que é subjetiva, até mesmo que não existe ou que é impossível de se conhecer, não cessa por ai, ainda encontramos muitas outras concepções.

Antes de tudo a nossa ideia de verdade foi construída ao longo dos séculos, isso significa que ela possui uma história, história essa que se inicia na Grécia após o período pré-socrático, mais precisamente com Sócrates e Platão.

Na obra da filósofa brasileira Marilena Chauí, intitulada “Convite a Filosofia”, está expresso que em grego a verdade se diz “aletheia”, que significa não-oculto, não-escondido, não-dissimulado, logo a verdade seria a manifestação daquilo que é, ou existe tal como é.

Com esse raciocínio a verdade seria uma qualidade própria das coisas, o verdadeiro está nas próprias coisas, dizer o verdadeiro seria ver a realidade e dizer à verdade que está na própria realidade.

Com o passar do tempo à ideia de verdade foi caminhando para o que os filósofos chamam hoje de ideia tradicional de verdade, ou seja, a verdade como adequatio esse termo indica que só haverá verdade quando houver adequação entre o objeto e o conhecimento que temos dele.

Emite-se um juízo descrevendo que a camiseta é azul, a verdade seria a adequação do meu juízo ao objeto (camiseta), se com isso voltarmos o olhar para o objeto (camiseta) e constatarmos que sua cor realmente é azul, pronto isso estaria adequado ao meu enunciado logo, ele seria verdadeiro, caso contrário seria falso.

Esta é basicamente a ideia tradicional de verdade, embora essa concepção seja contestada desde o inicio da modernidade, apesar disso, a maior parte das pessoas tentam entender a verdade como adequação.

 O filósofo Thomas Hobbes apesar de ser mais conhecido no âmbito político, ele se opôs a essa explicação tradicional de verdade.

Recapitulando a ideia tradicional de verdade consisti na adequação, entre conhecimento e o objeto, por exemplo: o que eu sei sobre o mar está adequado ao que ele é? Ora, para Thomas Hobbes aqui existe um problema.

Quem pode dizer se meu conhecimento do mar é adequado ao ser do mar? Ora, somente outra pessoa pode analisar tal afirmação, porém, o que lhe oferece o poder para decidir se minha ideia sobre o mar é verdadeira ou não?

Como sabe essa pessoa, qual conhecimento está adequado ao ser do mar? Só uma terceira pessoa e depois uma quarta uma quinta, sendo assim se cria um circulo vicioso até o infinito, logo se constata uma inconsistência na noção tradicional de verdade.

Por mais que pensamos saber “exatamente” o que é a verdade, ela parece nos escapar entre os dedos e nos deixar inquietos para sabermos o que de fato ela é.

Algumas pessoas dizem que a verdade é relativa, ou que na realidade tudo é relativo, o que essas pessoas não veem é que esse enunciado é no mínimo contraditório, pois, um juízo que diz: a verdade é relativa, ao mesmo tempo em que se diz isto, o indivíduo está constatando uma suposta verdade absoluta, assim se poderia dizer em outras palavras, existe uma verdade absoluta, a verdade absoluta de que a verdade é relativa, percebem essa contradição?

Também encontramos aquelas pessoas que dizem não existir a verdade, mais também não percebem que ao proferir: não existi a verdade, estão comprovando a existência de uma verdade, ou seja, a não existência da verdade.

Caem em paradoxos terríveis ao tentar apalpar a verdade, isso me faz pensar, que de fato a verdade, foi construída ao longo dos séculos, o que nos impulsiona a acreditar que a verdade é uma criação histórica, que muda de acordo com as condições históricas e sociais, ora a verdade é uma construção histórica, logo uma invenção do homem, outro paradoxo.

Como pode a verdade ser uma criação, assim como a mentira? Então a verdade no fundo é uma falácia que nos contam e que constantemente pode mudar de acordo com o tempo e as necessidades sociais?

Percebem que o novo Papa pode fazer algumas mudanças nas intocáveis “verdades” cristãs, transformando-as assim em novas “verdades”? Isso vai acontecer se o novo Papa mudar a postura da igreja, diante de alguns dogmas que já estão ultrapassados e que seria muito sensato, da parte do novo representante da igreja modifica-los.

Até mesmo, para continuar mantendo o poder da igreja, já que sua postura conservadora em um mundo pós-moderno, consequentemente irá findar em perder boa parte de seus fiéis.
 Com certeza, a igreja não quer pagar pra ver a sua falência e logo irá aderir a novas “verdades” santas. 

(Alex Domingos).