quinta-feira, 6 de março de 2014

Filosofia e incômodo







A filosofia incomoda, desde seu princípio na Grécia isso já acontecia, não é nenhuma novidade, creio que Sócrates foi o maior exemplo disto, já que ele foi acusado pelos atenienses de “impiedade” “foi acusado de não crer nos deuses da cidade e de corromper os jovens; mas, por trás de tais acusações, escondiam-se ressentimentos de todos os tipos e manobras políticas” (REALE, Giovanni, A história da Filosofia), Sócrates foi condenado a beber veneno, por conta disto.

Jamais ocorreria a condenação de Sócrates e sua morte, se ao filosofar, ele não incomodasse ninguém, historicamente hoje sabemos que ele através da filosofia, querendo ou não, Sócrates incomodava os gregos, tudo em plena praça pública, a famosa (Ágora), que a princípio se assemelha muito com a internet, hoje existem pessoas que consideram a internet como uma nova Ágora, ou seja, um espaço público de debates, porém as pessoas eram preparadas para poder ir para a Ágora debater, e não podiam dela participar quem não tivesse um mínimo de preparo, os próprios sofistas inimigos mortais de Sócrates, recebiam pagamentos para que preparassem as pessoas, e as tornassem mais eloquentes nos seus discursos.

Todavia, Sócrates jamais incomodava as pessoas somente por incomodar, está errado quem pensa que praticando um incomodo qualquer, esteja fazendo filosofia, a filosofia não é sair incomodando, a filosofia é um saber metódico e sistemático que pode incomodar.

Sócrates usava como método a dialética, que coincide com seu próprio dialogar, que possui dois momentos essências, a “refutação” e a “maiêutica”, ao fazê-lo Sócrates valia-se da máscara do “não-saber”, e da temida arma da “ironia”, cada um desses pontos deve ser adequadamente compreendido, porém utilizo deles para evidenciar que, Sócrates em seus diálogos com as pessoas, se colocava como alguém que nada sabia e queria somente aprender, porém logo após através da ironia refutava o saber do interlocutor, pronto, Sócrates o incomodava inevitavelmente, as pessoas não querem aprender e nem ter seus saberes refutados, repito, porque incomoda.

Isso é válido ainda nos dias de hoje, quando resolvemos filosofar e mostrar uma perspectiva diferente para as pessoas, muitas delas se zangam, ficam bravas, não sou um Sócrates ou Platão, mas tento filosofar, todavia, sei que ao passo que me pegar filosofando e através disso incomodar alguém, estarei feliz, pois fiz o papel de filósofo. 

Existem pessoas que se incomodam, mas tem a capacidade de aprender, ou seja, são inteligentes, outras se incomodam e se esperneiam porque não querem aprender, essas burras, ora, eu levo a sério a filosofia, não passei esse tempo todo estudando pra brincar de filósofo depois, pode até ser falta de polidez chamar uma pessoa de burra, porém nós filósofos não podemos colocar a polidez acima da filosofia.

Temos que aproveitar essa nova Ágora (internet), para promovermos diálogos e discussões que sejam relevantes, para que todos possam aprender juntos, os filósofos não sabem tudo, a diferença dele para algumas pessoas é que ele sabe disto, todos nós sabemos que contra a ignorância não se tem argumentos.

O próprio Sócrates dizia que filosofar não era para todos, era necessário estar grávido das ideias, pois, da mesma forma que uma mulher que está grávida no corpo tem necessidade de uma parteira para dar à luz, também a pessoa que tem a alma grávida de verdade tem necessidade de uma espécie de arte obstétrica espiritual, que ajude essa verdade a vir à luz, é essa exatamente a “maiêutica”.

Para incômodo das pessoas que não conseguem refletir, vou seguir o exemplo de Sócrates, enquanto eu viver irei filosofando pelos cantos.

(Alex Domingos)


REFERÊNCIAS

REALE, Giovanni, A história da Filosofia

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