Moro na minha própria casa,
nunca imitei ninguém,
E rio-me de todos os mestres
que nunca riram de si.
(Inscrição por cima da minha porta)
(Nietzsche, A gaia ciência, p,09)
O ser humano é provavelmente o
único animal na face da terra que ri. Só por essa questão o riso já daria um
belo tratado filosófico. Não foi à toa que muitos filósofos investigaram o riso
com seriedade. Neste sentido, podemos encontrar uma teoria do riso na filosofia
de Hobbes, Kant, Schopenhauer e Nietzsche. Em Nietzsche por exemplo, não encontramos uma
obra inteira dedicada ao riso, mas durante as suas investigações o riso aparece
e ganha espaço as vezes teorizado, as vezes de modo irônico nas suas sentenças.
O filósofo deixa claro a
importância que o riso tem para a filosofia: “Eu chegaria mesmo a fazer uma
hierarquia dos filósofos conforme a qualidade do se seu riso – colocando no
topo aqueles capazes de uma risada de ouro” (Nietzsche, Além do bem e mal). Mas,
qual é o filósofo que possui a risada de ouro? O sorriso de ouro é próprio
daqueles que estende o riso de si para o mundo e é capaz não só de rir das
pequenas coisas, mas também da fatalidade do cosmos. Isso é próprio de quem tem
o sorriso brilhante, afirmar o cosmos em sua integralidade, rindo até mesmo do
aspecto trágico da vida, amando (amor
fati) a vida em seus aspectos “positivos” e “negativos”. Filósofos como Platão percebiam o riso como algo prejudicial para a pólis.
Ao contrário, Nietzsche tece nas entrelinhas do riso a sua
cosmologia. Desta forma, abre-se caminho para uma ética ancorada não na
racionalidade, nem na religião, e sim no cosmos: - Temos assim uma ética
cosmológica. Hegel acredita que o cosmos é ordenado pela racionalidade, “O real
é racional e o racional é real”, neste sentido, as coisas caminham para um
progresso contínuo e a ética está baseada unicamente na razão.
Para Schopenhauer o cosmos não é
ordenado, e sim desordenado, isso quer dizer que não existe uma razão que
organiza o universo, mas uma vontade cega e caótica que desorganiza o mundo,
por isso a fama de pessimista de Schopenhauer, já que se o mundo não é
governado pela razão e sim por uma vontade cega, significa que em algum momento
as coisas irão dar errado. Nietzsche concorda em partes com Schopenhauer, para
ele o cosmos é governado pela vontade cega e caótica, mas não qualquer tipo de vontade,
a Vontade de Potência.
Nietzsche em sua obra Assim falava
Zaratustra discorre sobre a vontade de potência por meio de imagens, como sendo
uma vontade cosmológica que faz com que qualquer ser vivo passe a desejar
cada vez mais o aumento da sua potência de agir, o pensador fala de forças e
não de indivíduos. O filósofo lança a sua teoria da vontade de potência através
da boca de Zaratustra que é aquele que consegue levar o riso ao seu mais alto grau
de esplendor, nas suas palavras: “Fui eu próprio que canonizei o meu riso”. Ora, o riso é algo a ser canonizado, tamanha a sua importância, agora, não mais para
a filosofia, e sim, para a vida. Lembrando que Cioran já dizia que para se ter um lugar honrado na filosofia era preciso ser comediante. O filósofo alemão não tinha dúvidas quanto a isso: "Sou um aprendiz do filósofo Dionísio e preferiria antes ser um sátiro do que um santo". Porém, o riso também possui o seu
aspecto trágico: “Não é com ira que se mata, mas com riso”.
O riso em Nietzsche sempre me
chamou a atenção por ser o pano de fundo onde o filósofo produz as suas
imagens. Seu conteúdo é tão rico que jamais caberia num só texto, deixo aqui somente
uma parcela do riso de Nietzsche. Termino com as palavras de Zaratustra: “Aquele que galga as mais
altas montanhas ri de todas as tragédias lúdicas e de todas as tragédias sérias”.
(Alex Domingos)
Um belo texto sobre Nietzsche professor.
ResponderExcluirAqui é o Aluno do 2°b do Ensino Médio
Nome:Marlon Gabriel D. Cabrera