terça-feira, 23 de agosto de 2022
quarta-feira, 20 de abril de 2022
A fragmentação do saber
Na contemporaneidade todos nós corremos o risco de nos
afogarmos no mar da (des)informação. No mundo atual os saberes ainda estão
fragmentados, separados e por outro lado os problemas estão cada vez mais
polidisciplinares, transversais, globais/regionais e planetários. Enquanto isso,
somos inundados de informações por todos os lados, e muito pouca gente consegue
transformar essas enxurradas de informação em conhecimento.
Me lembro da época em que os músicos iniciantes compravam
aquelas revistinhas de violão que facilitavam as cifras, trago esse exemplo
para ilustrar uma tendência muito comum das pessoas em quererem facilitar
aquilo que é muito complexo. E isso contribui enormemente para a fragmentação
do saber.
A hiperespecialização é resultado de uma sociedade que há
muito tempo vem abandonando o seu interesse pelo “todo”, estamos indo na
contramão dos gregos e aceitando os pressupostos cartesianos sem questionarmos.
Assim a hiperespecialização acaba impedindo a visão global do
problema, e aquilo que é essencial passa a ser diluído ou deixado de lado. Quantas
vezes nós fomos ao médico e de pronto, somos encaminhados para outro que seria
o especialista.
É um médico para cada parte do corpo, com isso ficamos reféns
de um imenso grupo de profissionais que estão esquecendo de pensar o corpo
humano em seu conjunto, pois estão presos as partes. Existe uma gama muito
pequena de profissionais da área da saúde que ainda ousam a tratar o corpo
humano como todo, esses são sem dúvidas os
melhores profissionais da área e tem aqui o seu devido respeito.
Edgar Morin em seu livro: “a cabeça bem feita”: afirmar que
“o desafio de pensarmos o todo é um desafio da complexidade, de fato, quando os
componentes que constituem um todo (como o econômico, o político, o
sociológico, o psicológico, o efetivo, o mitológico são inseparáveis e existe
um tecido independente”.
Em outras palavras: o complexo deve ser tratado como complexo,
não podemos mais caluniar a realidade, simplificando-a. O que mais me chama a
atenção é que quanto mais a crise aumenta, mais aumenta a incapacidade de se
pensar a crise. Se fala muito em reforma da previdência, mas o que de fato
precisamos é de uma mudança urgente do nosso sistema de educacional, esse sim
precisa ser restaurado para as próximas gerações. Como canta o rapper Criolo
“Ainda há tempo”.
O agravamento da crise que assola nosso país se deve muito
ao fato da política econômica do Paulo Guedes estar desvinculada das outras
dimensões humanas e sociais que são de certa forma inseparáveis. Ele o Paulo Guedes se
recusa a enfrentar a complexidade econômica brasileira, de tal modo que o
ministério da economia é um dos poucos ministérios ocupados por alguém que tem o preparo técnico para assumir a pasta, mas que ao mesmo tempo é o ministério
mais atrasado humanamente falando.
Hayek dizia acertadamente que “ninguém pode ser um grande economista se for somente um economista”, eu acrescento: não basta ser um economista é necessário ser também um poeta. Hayek também afirma que "um economista que só é economista torna-se prejudicial e pode constituir um verdadeiro perigo”.
O nosso desafio hoje é pensarmos o problema do ensino, considerando de uma vez por todas os efeitos da fragmentação dos saberes e a incapacidade de articulá-los, com outras áreas. Segundo Edgar Morin o conhecimento só é conhecimento enquanto organização, que está relacionado com as informações e inserido no contexto destas. As informações constituem parcelas dispersas de saber. Precisamos conseguir integrar nossos conhecimentos para a condução das nossas vidas, para assim conseguirmos surfar em meio ao mar das informações. Mas para isso precisamos saber primeiro o que é conhecer.
(Alex Domingos)
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022
Estamos perdidos?
Caro leitor, faz muito tempo que não escrevo algo por aqui, já que, conforme o tempo vai passando vamos aprendendo a escutar mais do que falar, pensar mais do que dizer. Convenhamos, um mundo onde as pessoas falam sobre tudo, a toda hora e a todo momento, faz crescer o valor do silêncio.
As coisas andam tão absurdas que o ato de pensar e não correr para a rede social e comunicar aos demais o que foi pensado é como se fosse algum tipo de sacrilégio. É preciso ter opinião sobre tudo, se não você não é levado a sério. Temos que ser “youtuber-influencer”? Estamos perdidos?
Já faz um tempo que venho maturando as minhas ideias com a
convicção de que só poderei escrever algo que realmente preste quando estiver
lá com os meus sessenta anos, caso eu chegue lá, caro leitor. Torço para não
passar disso. A vida demasiada longeva não costuma ser algo animador. Nesse
meio tempo eu venho tentando transformar as minhas corriqueiras ideias e
experiências, em poesia. Confesso que o meu propósito é procurar, procurar até
encontrar a razão da minha procura, em outras palavras, quero inflar tanto a
palavra até que ela estoure em poesia.
A filosofia
contemporânea me parece um tanto quanto cansada, não raro, ela acaba tendo que
se escorar em outras vertentes do pensamento para que assim seja validada pela comunidade científica. Acredito
que produzir filosofia na contemporaneidade é algo desafiador. Uma hora dessas o
pensamento filosófico há de ser repreendido por aqueles que não conseguem filosofar.
Desde Sócrates foi assim.
Pelas experiências que eu tive, percebi que as pessoas se
zangam facilmente quando você mostra o seu poder crítico, quase sempre querem tirar uma
lasquinha disso. Também querem mostrar que pensam criticamente, porém, sem
ter as bases corretas para tal, por isso cometem erros grosseiros, talvez pela
ânsia de filosofar da noite para o dia.
Faz algum tempo que venho alertando sobre os perigos de ser
auto didata, digo em qualquer coisa que seja. O Brasil viu de perto o caso do
Olavo de Carvalho que deturpava tudo que tocava, e ainda assim conseguiu
influenciar tanta gente, acredito que isso só foimpossível pelo fato do Brasil ser
um país onde há muitas pessoas sem pensamento crítico e sem o cultivo do saber
filosófico.
Como no caso do Monark que por ignorância e um pouco de
prepotência juvenil e mal caratismo, defendeu a existência de um partido
nazista, coisa tão absurda, que só jovens neoliberais com fetiche em liberdade defenderia.
Creio que até hoje ele não tenha entendido tamanha repercussão. Na cabecinha
dele ele só se expressou incorretamente. Nesse caso o cancelamento veio a
calhar, mas não sejamos tão otimistas, ele só foi extirpado do podcast por
causa de dinheiro das empresas patrocinadoras, não foi pelo bom senso ou algo
do tipo. O Monark foi engolido pela mão invisível do mercado, algo que ele
tanto defendeu em suas falas vomitativas.
Quem dera eu tivesse a clareza de um Cioran (filósofo romeno), eu já teria sido
cancelado há muito tempo. Não por burrices como do Monark, mas por ousar a pensar
a partir da fatalidade. Nem sempre consigo, mas as vezes tenho uns “insides” muito pertinentes,
porém o niilismo e a minha preguiça existencial não me permitem fazer mais do
que eu faço. Tenho bons momentos de clareza, no restante do meu tempo eu bebo cerveja
e escrevo poesias.
Tenho a impressão de que o ser humano caminha num imenso labirinto sem ter o fio para conduzi-lo. Se estamos perdidos; isso não sei caro leitor, só tenho uma vaga impressão sobre isto. Na verdade eu só escrevi este texto para dizer que estou de volta aqui no blog, e é só isso, se chegou até aqui, aquele abraço, deixe seu like, compartilhe, ative o sininho e tchau!
(Alex Domingos)
segunda-feira, 25 de maio de 2020
O fim do Brasil?
domingo, 17 de maio de 2020
O “Zaratrusta” dos Leões: Nietzsche virou profeta?
Nos dias de hoje o virtual e a política são a tônica da nossa sociedade pós-moderna. É necessário diluir isso artisticamente e apresentar de uma forma poética, expressiva e com uma potência visceral para que isso faça as pessoas pensarem.
sexta-feira, 3 de janeiro de 2020
terça-feira, 23 de abril de 2019
Performance poética e alteridade através do espelho
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, As sensações renascem de si mesmas sem repouso, Ôh espelhos, ôh! Pireneus! Ôh caiçaras! Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro! Abraço no meu leito as melhores palavras, E os suspiros que dou são violinos alheios; eu piso a terra como quem descobre a furto Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos! Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, mas um dia afinal eu toparei comigo...Tenhamos paciência, andorinhas curtas. Só o esquecimento é que condensa, E então minha alma servirá de abrigo.
A performance da boa poesia talvez seja, aquela que nos arranca um suspiro e nos faz calar por alguns segundos. Observar-se ainda, aquelas que fazem com que ergamos a cabeça, dando forma aos nossos mais íntimos pensamentos, assim olhamos para o alto em silêncio, pois, sua performatividade se propaga pelo corpo, e também é incorporada e experienciada pelo leitor, que já não é mais o mesmo que se colocou a ler a primeira frase.
Ora, se existem aquelas poesias da qual não nos resta mais nada, além do calar-se diante do termino da leitura, o silêncio é algo que merece ser evidenciado nesta relação performática com a poesia. Agambem, em seu “micro-texto”: (a ideia do silêncio), se vale de uma fábula da antiguidade para sublinhar a importância do silêncio, nela lê-se este apólogo:
Como na fábula, onde não bastava o filósofo suportar pacientemente a flagelação, teria também que fazer a experiência do silêncio para tornar-se filósofo. Ainda, segundo Agambem: um belo rosto é talvez o único lugar onde há verdadeiramente silêncio [2]. O rosto carrega consigo a linguagem do silêncio, pois, é no silêncio que o rosto diz.
O rosto que me dizia algo, eram o rostos de outras pessoas, aqui, quando falo sobre a outras pessoas, ou o “outro” como manifestação da linguagem corporal, estabeleço a relação de alteridade, pois, alteridade pressupõe o “outro” ou “outrem”.